Já faz tempo. Uma semana. Nesta e na outra, o outro foi eu mesmo.
Eu fui quem não sou, pescador, há uma semana.
Rede das linhas imaginárias, traçadas da maneira que a desconfiança pedia.
Parece que foram malhas da rede que tecia sozinho para pescar.
Foi a isca mais caluniosa; foi o peixe que morreu com sede na boca.
Era a sede marinha, a escassez de mar aberto.
O sal desidratou quando fechou ali a rede, enroscada na semana,
E se prenderam os sete dias para, ao oitavo, descansar.
Sabe quantas horas descansei numa semana?
Todas as que estive diante de mim - o outro que fui -;
Eu jamais seria o mesmo por mais que dias descansasse.
Mas há dias que a fome é tão grande
Que coitados os cardumes enfileirados,
Presas infinitas, limitadas a serem peixes e não nadar!
Ficam todos a se debaterem fora d'água
E parecerem nadar e não há água.
São linhas e linhas tecidas,
Armadilha que pescadores há muito mais que uma semana
Fazem o instrumento consumir e arrastar.
A próxima embarcação que saia daqui para as milhas distantes
Transporão o frio entre as escamas arruinantes.
O corpo cravado por espinha entalada garganta adentro,
Afogará qualquer último suspiro
Sem asa, sem perna, sem pata, sem pena
Da guelra desfalecida no peixe a boiar.
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