6 de agosto de 2017

Triunvirato

A palavra "triunvirato" tem origem na justaposição de dois radicais latinos: "trium", cujo tradução é o numeral três, e "vir", que significa "homem". A associação política firmada por três homens em pé de igualdade remonta a República Romana, em que, por dois períodos, conhecidos como Primeiro e Segundo Triunviratos, designaram uma aliança entre três personalidades para unir forças e governar a supracitada localidade.
Mais tarde, na história mundial, os soviéticos também instituíram o governo de três membros: a Troika. Não sei ao certo se isso evoluiu para o que hoje conhecemos, no Brasil, como os Três Poderes, em nosso exemplo republicano nacional, chefiados pelo Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
Como interessado por política e literatura, decidi adaptar o Triunvirato para tomar as rédeas desses meus dias e instituir meu poder, de modo a conciliar a igualdade entre três homens de mim para que restaurem a força necessária a me governar.
Decreto, assim, que o homem que fui, este que sou e o que pretendo ser se unam a fim de equiparar-se à importância que todos eles têm, agrupem-se e instaurem a Lex Titia nesta vida até agora desgovernada.
Faço isso ao perceber que há algum tempo tenho me queixado de algumas perdas, que se somam aos rastros derramados no solo de desesperança que trilhei à mercê da minha própria sorte e de outros governos que se impõem sobre mim. Em contrapartida, existe em mim uma necessidade grande de ter tudo sob controle, portanto me sinto por muitas vezes transtornado quando algo está fora dos meus radares e dos meus olhos sonolentos. Por ter esta necessidade de controle, abro mão do que não confabula com minhas decisões ou mesmo se contrapõem a elas. Cometo erros constantes em esperar a soma, contabilizando tantos debêntures, que só aumentam minha dívida com meus credores. Como aprendi, não consigo dominar também as economias, e me perco entre estes números deficitários que, com o juro da ilusão, deixaram prejuízos inestimáveis. Peço perdão a terceiros: pagarei quando puder, pois que devo e não nego.
Quando comecei a fazer uma auditoria nas contas, vi que os grifos em vermelho tomavam toda a atenção dos meus olhos; passei horas reparando nos danos, mas não os pude reparar. Foi, então, que me esqueci das conquistas de anos de suor derramado, trabalho árduo de um gestor que andava perdido com intentos que prevalecem na zona do ocaso. Tornei-me, assim, e inclusive, uma persona non grata.
Como eu pude esquecer, entre achados e perdidos, o que fora cativante, o que até agora me chama pela consequência da responsabilidade que congregamos com esses agrados? O homem que fui ressurge, por fim, com a força de uma reparação, eliminando as pontas soltas, conectando os fios de acordos, só comigo e com os meus.
Quanto ao homem que sou, nesta posição de líder ocasional que se revela, desvela o oportuno, incluindo apenas bons e necessários tempos de agora. Condensa a matéria que, no calor desta República, derretia dia a dia, virando líquidos e escoando para galerias que só levam ao destino que por tanto tempo me prenderam equivocadamente a atenção.
Aceitei solidificar o que é matéria de verdade, palpável, quer seja nas mãos, quer na mente, onde dedos e memória têm todo o jeito valerem-se. Quando o homem que serei for aparecendo nas minúcias de todo este trabalho conjunto, vai refletir a esperança que só pode contar com o que os três, juntos, controlam. Quem sabe eles serão o próximo chefe de Estado: sólido. Pois o que era líquido já me escapou faz tempo, e o que é vento nunca vai preencher a barriga deste povo. Deixa-me então povoar e concretizar a nova política, porque até as minhas palavras já não estão tão mais convincentes quanto o poder do suspiro que agora eu me dei conta.

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